quarta-feira, 11 de julho de 2012

A TRAJETÓRIA DO BOI

Em vários países do mundo existiu ou existe uma dança na qual dançarinos gravitam ao redor da figura de um boi que também dança. No Brasil o auto de morte e ressurreição do Boi é comum a quase todo território nacional e é, sem dúvida, o nosso maior teatro folclórico, síntese da miscigenação das três raças: índio, negro, e branco.  




Acredita-se que tenha surgido entre os séculos XVII e XVIII - com o desenvolvimento do ciclo do gado - e avançado por todo o nordeste e norte do país com diferentes denominações. No Maranhão e Piauí é chamado de Bumba-meu-boi, no Ceará é o Boi Surubim, no Rio Grande do Norte é o Boi Calemba. Outras variantes são o Cavalo Marinho de Pernambuco, Mulinha de Ouro ou Dromedário na Bahia, Boi Jacá em São Paulo ou Rio Grande do Sul, Boi de Reis na Paraíba, Rio de Janeiro e Espírito Santo e Boi de Mamão em Santa Catarina. 




Na região norte a forma mais predominante de denominação do boi é o Boi Bumbá. Em geral este auto apresenta a história do roubo e matança do boi mais querido do patrão para satisfazer o desejo de Catirina: comer a língua do animal. Os empregados são castigados e perdoados após a ressurreição do boi que é celebrada com uma festa anual.  Dependendo da região, além da diferença de denominação, essa história apresenta características próprias que interferem na sua elaboração, formação de cordões, indumentárias, canto, ritmo, instrumentos, personagens, dança, cores e brilhos, que geraram a criação de inúmeros sotaques e estilos. 




No Maranhão atualmente são aceitos cinco sotaques presentes nos mais de duzentos grupos tradicionais e alternativos que se apresentam durante todo o ano (principalmente entre os meses de maio a agosto) e podem ser classificados em Grupo Indígena (representado pelos sub-grupos de bois de pindaré e ilha), Grupo Africano (representado pelo sub-grupo de bois de  zabumba e costa de mão), Grupo Branco (representado pelo sub-grupo de bois de orquestra).

Foto: Paulo Caruá

Sabedores da diversidade de estilos que caracterizam o auto do bumba meu boi no Maranhão e no restante do país, o projeto Teatro Nos Passos do Boi: No Miolo da Floresta, busca aproximar a produção teatral da Santa Ignorância com a produção cultural do norte do país, em especial de comunidades que estão localizadas em regiões pólos de produção do Boi Bumbá através da realização de um circuito de apresentações do espetáculo teatral O miolo da Estória, debates e dos workshops Sotaques do Maranhão e O Ator brincante nos Passos do Boi. O espetáculo conta a história de um miolo de boi, operário que sustenta o sonho de vir ser cantador no boi onde brinca. Os debates têem por objetivo estabelecer contato e impressões com a platéia e apresentar as propostas estéticas do grupo. O primeiro workshop apresenta os principais estilos do bumba meu boi e suas células rítmicas fundamentais. O segundo parte do primeiro como forma de preparação e condicionamento físico de atores, experimentando o potencial pré-expressivo e expressivo da dança dramática na composição de personagens.


Foto: Paulo Caruá

 Este projeto [..]  apresenta-se como espaço de pesquisa, intercâmbio e criação de roteiros artísticos. Todas as atividades serão distribuídas gratuitamente e destinadas para um público maior de 12 anos de idade. Ao todo serão 18 apresentações das quais 06 serão realizadas em sedes de grupo bumba meu boi ou demais espaços alternativos, fortalecendo ações de difusão, fruição e acessibilidade.

O Projeto [...] Teatro Nos Passos do Boi: No Miolo da Floresta apresenta-se como importante ferramenta de socialização de produtos artísticos e resultados de processos metodológicos de investigação cênica, contextualizando-os com o universo contemporâneo da vida e da arte. Aponta alternativas comprometidas com a valorização de saberes e experiências populares, com a descentralização de ações culturais e com o fortalecimento das identidades de jovens e adultos.


(Cia. Santa Ignorância)

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